Jantar à luz de velas nunca teve graça pra mim. Nunca entendi a comoção. É pouca luz, a gente mal se enxerga e ainda fica a cera pingando na mesa, sujando tudo. Você insistia e eu aceitava só por você mesmo. Não gosto de comer no escuro, e se um bicho cair na minha comida? Mas eu aprendi a gostar da luz de velas. Nela, as sombras se projetam com mais intensidade, se aproximam e fazem companhia.
A luz da cozinha é aquela branca, forte. Parece de hospital. Ilumina até debaixo do armário e eu vejo que não tem ninguém aqui além de mim. Tô cansado da minha companhia. Não me entendam mal, eu não tenho problema nenhum em ficar só. Eu gosto. Gosto de mim, de ter um tempo só pra mim. Mas uma hora cansa, né?
Tô cansado da minha companhia. Já tô de saco cheio de ouvir minha voz, de identificar todas as minhas manias e prever as respostas de cada conversa comigo mesmo. A rotina é o túmulo do amor e eu tô a algumas poucas pás de enterrar esse amor próprio ainda em construção.
É quente. A luz. É claro que é. Mas eu nunca tinha parado pra pensar nisso. Seu calor me embala. Mas meu momento preferido é apagá-la. A fumaça que resta rodopia como você fazia e eu gostava. Começo a te ver ali, no topo da vela, dançando tão bonito, com aquele corpo esculpido e olhos de farol, só pra mim. Uma vez mais.
Será que eu estou enlouquecendo?
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