Você me liga, mando mensagem, trocamos vários eu te amo como se fossem o ar que respiramos. E assim, os dias se seguem. Dói em silêncio, secretamente. Uma dor aguda, sentida, mas tolerável.
Perco boa parte da sua vida, os pequenos detalhes que permeiam seus dias. E, em troca, você perde os meus. Compartilhamos os grandes acontecimentos, até o assunto acabar e então, ficamos mudos. Buscando algum fato novo para preencher este silêncio que tem gosto de culpa. Como se vinte e cinco anos ainda não nos permitissem ficar sem dizer nada. Porque sem as palavras, a distância se faz presente e volta a doer.
Nos despedimos diversas vezes até que alguém consiga desligar. E se a chamada ficasse ligada enquanto cada um vai fazer suas coisas? Escutaríamos assim a louça sendo lavada, o lápis escrevendo no papel, a TV ligada num desenho ou série policial. Os pormenores da rotina.
As circunstâncias nunca foram ideais, convencionais, normais. Por anos, coisas simples como os dois na mesa, sozinhos, tendo um almoço em família era algo fora da realidade.
E você não se perdoa, eu sei. Por acreditar que estou sozinho, abandonado por você.
E eu também não. Por escolher sair e te deixar, buscando algo que eu talvez nem saiba o que é.
De certa forma, tornamo-nos um conceito. De estar longe, sentir saudades. Tentando compensar o tempo perdido nos pequenos encontros, sempre em dívida um com o outro (ou consigo mesmo). E apesar de dolorida, essa distância é contornável. Aprendemos recentemente que o reencontro é mais fácil do que parecia e que deve ser reclamado. Aquece. Afaga. E sim, as rotinas sobrevivem perfeitamente à ele.
Não me lembro onde eu li que a liberdade só pode ser compreendida quando a perdemos. Mas sempre achei bonita essa trágica delicadeza de algo que só existe quando é perdida. Hoje conversamos sobre eu ir te encontrar e com lágrimas, ambos perceberam que não seria o mais prudente. A distância se fez mais presente porque, mesmo que temporariamente, hoje ela não pode ser vencida. Perdemos a liberdade de nos encontrar quando bem entendermos. E dói. Porque me preocupo e você também. Porque isso tudo assusta e estamos longe. Sinto inveja de tantos e raiva das circunstâncias. Mas também sinto sua mão no meu cabelo e tudo se apazigua, como as harpas que escuto enquanto escrevo isto.
Devo aceitar a distância, hoje mais do que nunca. Ciente de que ela me ajuda a ter consciência do quanto te amo.
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