sexta-feira, 6 de março de 2020

25

Hoje percebi que em menos de uma semana faço 25. Um quarto de século e eu não sei bem o que isso significa para mim. De certa forma, não me sinto preparado. Por outro lado, sinto que se eu despir esse momento de todo o simbolismo colocado por nós como seres humanos conscientes se trata apenas de mais um dia, nessa bagunça que chamo de vida.
Mas não é só mais um dia, mesmo que eu tente fingir que não há peso algum. Eu estou diferente, queira aceitar ou não. Eu sou diferente. A cada dia.
Há dez anos eu tinha 15, estava no ensino médio escutando o recém lançado CD da Sandy Manuscrito. Nunca havia beijado na boca, me apaixonado, namorado, partido o coração. Ainda tinha uma vida inteira pela frente e certamente não tinha feito nenhuma das escolhas das quais me arrependo de certa forma hoje em dia. Não sabia o que me esperava nem tinha noção que já deveria ter alguma espécie de projeção para o que poderia vir.
Também me preocupava constantemente com meu peso e com o que comia, não tinha amigos e vivia reprimido. Com medo de ousar ser um pouco diferente. De expressar minha individualidade. Eu vivia com medo de ser alguma coisa. Eu não me permitia ser nada.
Eu sabia que era gay. Mas fingia que não. Me masturbava em silêncio, apesar de morar sozinho, prometendo ser aquela a última vez. Não sabia o que fazer, nem tinha ninguém pra me aconselhar.
Me obrigava a ser bom em matérias que eu não tinha afinidade e reprimia meu lado artístico porque era o que eu devia ser, porque eu era muito inteligente. Era o que diziam.
Constantemente eu me sentia esmagado, sufocado, incompreendido, mudo. E hoje, às vezes ainda me sinto assim. Mas não tem mais o peso que tinha. Ali, eu precisava de um abraço. Hoje, eu já sou capaz de me dar esse abraço. De me dar o apoio e a confiança que eu preciso.
Ainda é muito difícil. Me arrependo de muitas escolhas, de caminhos que eu tomei e que não têm volta. Sei que poderia e talvez deveria estar muito mais à frente.
Mas hoje eu me amo o suficiente para ser gentil comigo, para perdoar minhas falhas e seguir.
Independente do caminho.
Te aguardo, vinte e cinco.
Seja como for.

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