"Olha pra mim" - você disse. Com esses olhos castanhos e profundos em que o seu mundo parece abrir as portas para mim e construir um caminho até os meus.
Mas eu não queria olhar. Não queria por saber que se eu olhasse não poderia fingir, não poderia mais desviar e ficaria ali despido de alma, fragilidade exposta pra você e pra mim. Meu olhar é frágil quando encosta no seu e revela mais do que eu queria para manter-me numa zona segura de mim e do que eu sinto por você.
Mas eu queria olhar. E eu olhei.
O mundo explodiu. Não havia mais nada ali, não havia eu. Só seus olhos. Invadindo os meus e sumindo com tudo ao meu redor, a rua, o chão, o tempo. Pude viver milênios no encontro do seu olhar com o meu sem saber (e até mesmo me preocupar) se conseguiria retornar.
Repleto de medo. E mais ainda de vontade.
Vontade de dizer algo já tão natural que me escapava nos sonhos, nos pensamentos e em conversas. Que eu tentava em vão enrolar na língua e engolir.
Quatro sílabas. Não minhas, mas suas. Saídas de forma tão simples e leve que eu até invejei. Na sua boca parecia tão fácil, porque compliquei? Já não importava. Pude também dizê-las, e repetir com você nossos "eu te amo" ecoando na escada daquele bar.
Naquela noite, meu olhar no seu, eu estava vivo.
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