Interesse. Todos nós, ao se aproximar de alguém, fazemos isso por interesse. Estamos buscando alguma coisa naquela pessoa. Um beijo, uma ajuda, uma foda, saber onde foi que ela comprou aquela blusa com a estampa irônica, alguém pra escutar os problemas.
Para mim, todos esses motivos carregam um interesse oculto que independe da situação, da pessoa. O de ter alguém querendo conversar com você. Voluntariamente. Sem nenhum outro tipo de interesse além de conversar. Por horas, até perceber que já passa da meia-noite e vocês deveriam ir dormir.
Não preciso que escute meus problemas e encontre uma solução, não quero que pare tudo que está fazendo pra me dar atenção, que me responda imediatamente ou me dê bom dia assim que acordar. Acho tudo isso trivial e pequeno. E tampouco vou fazer.
É sobre não apresentar nenhum tipo de promessa de recompensa e ainda assim ser "merecedor" de sua presença, por nada além de porque sim. Não porque precisa desabafar com alguém, porque precisa de uma segunda opinião, porque eu chamei e se sente na obrigação de responder, porque me quer nu.
Nada. A vontade despida de qualquer obrigação e interesse.
Tive um parceiro uma vez que era ótimo. Me dava atenção, prioridade. A gente conversava muito, bobagens, coisas sérias. Mas eu ainda sentia falta disso. E ele não entendia, se ofendia com isso. Achava que eu não o via como suficiente, que eu queria ser infiel. E eu demorei muito tempo para entender também. Não se trata de relações amorosas. Sim, ele não era tudo para mim e não conseguia entender isso porque ele tinha outras pessoas além de mim, que faziam questão de mandar um oi, conversar besteiras sem nenhum interesse em particular. Não se trata do status que eu tenho com você, pelo contrário, aliás. As circunstâncias que fazem duas pessoas sem razão alguma para estarem ali permanecerem em conexão é de uma poeticidade muito maior e recompensadora.
É engraçado, porque me pego constantemente questionando a natureza de minhas interações. Preocupado se vou ser mal interpretado. E muitas vezes sou. Alguém com um interesse sexual em mim vai subitamente mudar seu comportamento, os assuntos que tem comigo e a permanência na conversa uma vez que esse interesse deixar de existir. E eu vou ser lido como ainda insistindo nisso. Quando não. Ou talvez, um súbito olá meu vai criar suspeitas controvérsias que o impedirão de ser respondido pelo receptor que acredita estar eu atrás de algo que não vou conseguir.
E até tem razão, já que o que quero (a resposta) não vou de fato conseguir.
Eu sou uma coleção de setas azuis. Aquele que puxa a conversa e também o que termina. Que não percebe que a conversa já morreu e manda alguma resposta que não vai levar a lugar algum. O beco-sem saída. Cemitério.
É comum ser ignorado.
Acho normal não receber nenhuma mensagem.
Deslizar a tela do aplicativo olhando todas as conversas, imaginando o que cada pessoa está fazendo e se gostaria de falar comigo. Buscando em vão assuntos para reviver conversas mortas, onde a última mensagem foi minha (pensando que se eu tivesse me segurado poderia ter saído na vantagem).
Escreve.
Apaga.
Muda o que escreveu.
Apaga de novo.
Reescreve.
Encara, desiste.
Fecha o aplicativo e vai fazer outra coisa.
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Adoro ler o que escreve.��
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