Sinto que estou em cima de um precipício. Pendendo. Quase caindo. Mas alguma coisa me segura e eu fico preso entre o cair e o ficar.
Eu tentei de tudo. De verdade. Às vezes a gente fala que tentou, mas tá só querendo disfarçar a própria incompetência. Eu realmente tentei dessa vez. E no começo até que funcionou. Eu estava empolgado, motivado, focado. Mas conforme o tempo foi passando, o mundo inteiro entendeu que isso não ia ser assim tão passageiro e acordar cedo pra fazer exercício, assar pão com fermento caseiro e assistir cinema argentino voltou a ser o que é; detalhes do cotidiano que não abarcam todo o meu tempo. Só me distraem momentaneamente de constatar que ainda tô pendendo nesse precipício, sem um propósito.
Me deixei cair, pra ser engolido no rio gelado das inseguranças que lentamente me afogaram em autodepreciação e dúvidas cada vez mais tangíveis, queimando como gelo. Foi a primeira vez que eu pensei em me matar. Eu já tive vontade de deixar de existir várias vezes. Mas foi a primeira vez que eu senti vontade de fazer alguma coisa. E medo de acabar fazendo.
Quando você cansa de nadar a melhor coisa é boiar pra descansar, mas precisa tá calmo. Respirar fundo, coisa que eu já não sei mais fazer. Vejo o precipício lá longe e sinto raiva. Quero voltar, era melhor fincar pendendo. Mas já foi, eu não estou mais lá.
Eu vou morrer. Agora. Aqui na frente de vocês. Eu tenho que morrer. Já posso sentir chegando. Meu coração tá pesado. Cada batida parece um golpe de tambor querendo arrebentar meu peito. Eu respiro em soluços, como se respirar já não fosse mais natural. Tá vindo. Não fiquem tristes por mim. Não se preocupem, morrer, nesse caso, não é o fim. Quer dizer, é. Mas não é ruim. Esse “eu” que vocês viram precisa morrer porque eu já não sou mais ele. Como a cobra que troca de pele, eu já não caibo em mim e preciso morrer. Ou melhor, essa parte de mim precisa ir.