Ninguém me preparou para isso, ninguém me perguntou nada, eu não tive nem tempo de recusar. Muito menos de arrumar as coisas, ficou tudo fora do lugar. E vai ficar por um bom tempo.
Se eu pudesse levar essa dor embora comigo.
Mas não, sou só eu quem vai. A dor fica e fica de forma tão cruel que eu já não sei se o que mais dói é a partida ou a dor que ela causa. E ao mesmo tempo que eu quero que pare de doer, eu tenho medo de que essa dor seja tudo que ainda me mantenha vivo em vocês. Eu tive tão pouco tempo, será que foi o bastante para sobreviver em vocês? É difícil não ser egoísta quando tudo lhe foi tirado. E a única coisa que resta é essa saudade que aos poucos mata aqueles que você mais amou.
Eu já não sou mais eu. Eu já não sou mais alguém. Eu sou apenas dor. Uma dor aguda e gelada que me atravessa a espinha, ou o que eu acho que é a minha espinha nesse estado. Essa dor não vem de mim, vem para mim, vem por mim. E me faz culpado.
Quando tudo ficava difícil, eu corria para minha terra, para matar a saudade dos dias de moleque que eram tão simples.
Eu busco a sabedoria dos meus antigos para me acalentar. E para vocês eu mando um urutau cantar minha saudade.