domingo, 18 de fevereiro de 2024

Noite luz

Fios elétricos correm por toda cidade
Fazem da noite luz, noite luz
Reluz na minha pele, me faz azul
Contra a palidez da lua que arde

Lambe-lambe, lambe meu peito que em dor se abre
Encaro os dias que se passam iguais
Sinais fechados, painéis escuros
Antes que mais um prédio desabe
 
Noite luz que preencho de palavras
Linhas retas, rabiscadas
Do eixão ao buriti
 
Noite luz em que habitam novas dores
O começo dos amores  
Ao cantar do bem-te-vi
 
E correm os fios da noite
Noite luz, noite luz  
Vem ver comigo a noite luz

sábado, 2 de setembro de 2023

O incômodo segundo I.F.

Minhas ideias estão turvas, embaralhadas. Minha cabeça parece incapaz de se conectar comigo, como se tivesse descolado de quem sou ou de quem eu estava sendo. Voltei a um estado anterior de caos e confusão, como se minha maturidade tivesse regredido alguns anos. Quem sou agora parece alguém que há muito tempo já não existia mais, alguém que não me representa e não me compreende, não é capaz de projetar ao mundo aquilo que eu sou ou quero ser. Parece uma versão inacabada, mal feita de um Igor que não cabe em mim e no mundo.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Poemas velhos, flores mortas

Eu te escrevi milhões de poemas,

Mas acho que você nunca os leu.

Apenas os deixou mofando 

naquela gaveta escura.


Como fazia comigo.

Como fazia com aquelas pobres flores secas.

Mortas, 

Esquecidas por entre as páginas de teu caderno.

Pra depois serem simplesmente jogadas fora.

Sabiam demais.


Mas de volta aos poemas, 

Que já devem estar com as páginas amarelas,

Talvez a culpa seja minha.


Como um tolo, os condenei 

Por achar que ainda tínhamos chance.

Que alguma das minhas palavras pudesse te tocar.


Mas não importa mais.

São seus agora.


Por mais que você se recuse a ouvir

Eles estarão lá, naquela gaveta escura

Sussurrando teu nome

Assombrando-te à noite.


Torço para que invadam teus sonhos

E aí, então, te façam me ouvir. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Pancada Forte

Perdido no mar do tempo
Um grito ecoa sem retorno
Afogado entre as ondas
Do hoje e do ontem

Estou dormindo?
Você toca uma canção de ninar difusa
Que me arranha os ouvidos
Mas meus olhos não se fecham
E você se dissipa
Continuo te chamando
Em vão

Me embrenho na neblina densa
E danço com o frio
Sinto dor e um desespero
Que não são meus
Sinal de que estou perto
Mas atrasado

A onda quebrada
Não banha a praia mais de uma vez

Ao som de um eco mudo e pertinaz
Que me aponta para um ontem irremediável
Vasculho os destroços
O breu molhado em sal engoliu sua voz
Foi-se tudo

No canto de meus olhos
Derramam-se as ondas do amanhã

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Cruéis atrasos

Mais uma vez você perdeu a hora. 
Novamente, chegou atrasado. 
Horas, minutos, segundos? Quantos? 
Não faz diferença. 
O atraso é imperdoável, irreversível. 
Você chegou, mas já não está aberta a porta
E você espera, na chuva, que ela se abra por alguma razão 
Que alguém, porventura, venha conferir se esqueceu o sapato aqui fora 
Dando de cara com você. 
Mas as chances não te conhecem. 
Só os pontuais têm chances e você não é um deles. 
Guarde as lágrimas, palavras, carinhos 
Ou planos que você trazia
Aqui eles não são mais bem-vindos
Nem você.
Volte ao lugar de onde veio 
Cabisbaixo.
À espera do próximo atraso...

domingo, 2 de janeiro de 2022

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem

Eu queria escrever um texto sobre você. Queria escrever um texto bonito o suficiente para te mostrar. Bonito o suficiente pra querer escrever à mão e emoldurar, te entregar num papel bonito, torná-lo tangível e real. Tinha medo de fazer isso, sempre tive. Por acreditar e me resignar ao fato de que nunca seria real e que eu estaria correndo um risco enorme com isso. Um risco de te perder. Mas segundo você eu não vou te perder, de forma alguma. Então eu quero correr esse risco. Quero correr esse risco pelo Igor de 2020 que não tinha ninguém além de um rapaz que tinha acabado de conhecer e que todo dia vinha lhe contar sobre seus planos. Pelo Igor de 2020 que já sentia alguma coisa por você antes mesmo de nosso primeiro encontro físico e que depois dele saiu querendo não te soltar mais. Pelo Igor que queria muito você mas não se achava bom o bastante, capaz o bastante. Talvez eu ainda pense assim, mas hoje eu quero ser, me tornar bom o bastante pra você. Quero ter a chance e conquistar essa chance de poder me deitar no seu peito e saber que aquele coração tá batendo por mim e o meu por ele em troca. Eu tô precisando me encaixar nos seus braços e repousar ali, porque eu tô cansado dessa falta de amor. E eu quero os seus braços porque só neles eu senti como é não faltar amor. Eu quero isso. Eu mereço isso e se não mereço quero merecer. Quero merecer caber nos seus braços e te apertar forte pra nunca ter que sair dali. Eu espero que você consiga acreditar em mim. Não precisa ser agora, não precisa ser hoje. Mas acredite em mim e no meu sentimento intenso que estou permitindo existir sem filtros. Eu quero que você seja feliz, mas quero que seja eu a causa dessa felicidade, não outro. Quero lutar pra que você me escolha. Porque eu mereço estar nos seus braços e receber seu amor. E mereço ter você nos meus braços pra te dar todo meu amor. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Pegadas em brasa

 

Caminhas descalço pelo asfalto

As nuvens te acompanham cobrindo o Sol 

E ainda assim, o chão é escaldante 

Dizem, ao te ver marchando,

"seu couro é mais grosso" 

Mas ao olhar para seus pés, 

Estes queimam e ardem com a caminhada 

Como qualquer outro pé.


Noite luz

Fios elétricos correm por toda cidade Fazem da noite luz, noite luz Reluz na minha pele, me faz azul Contra a palidez da lua que arde Lambe-...